quinta-feira, 9 de agosto de 2012

"Meu filho comia bem até que começou a fazer pirraça"



A nutricionista Vânia Barberan tira as dúvidas da nossa leitora que relata que o filho de 2 anos, que sempre alimentou-se bem, começou a fazer manha na hora da refeição. Descubra no texto abaixo a resposta para essa questão.

“A criança normalmente testa limites e, se verifica que a hora da comida é um ponto de conflito, pode usar para manipular ou questionar o adulto. No entanto, o alimento não deve ser objeto de barganha porque é necessário para o desenvolvimento saudável dessa criança. Traço alguns pontos que são sempre conflitantes nessa relação alimentar entre pais e filhos:


Foto: Reprodução/Internet
- Diferença entre o alimento saudável e o não
A criança não sabe fazer essa distinção sozinha, então os pais têm essa missão. Geralmente, o alimento não saudável tem a propaganda como aliada, ou seja, como fazer a criança comer banana quando o apelo do biscoito recheado, colorido e com carinha é muito maior? A questão não é se o biscoito vai ou não fazer mau, e sim que vai substituir um alimento que comprovadamente faz bem. A criança começa a estabelecer que a textura e o paladar do biscoito é normal e, quando for oferecida uma banana ela não terá interesse porque o alimento “in natura” sempre tem cheiro e gosto diferente, o que causa surpresa se compararmos aos biscoitos industrializados.

- Escolhas, troca e novidades
A criança faz pirraça quando tem escolha. Caso não tenha, não acontece a barganha. Tudo é muito novo nesse momento, então sugiro diminuir a oferta em variedades e perceber o que a criança mais gosta. Sempre que for oferecer algo novo, os pais precisam estar preparados para a desaprovação, é importante não desistir e oferecer em outro momento. Hoje sabemos que qualquer pessoa (criança ou adulto) deve ser apresentada a um sabor novo por pelo menos 15 vezes antes de decidir que não gosta, com intervalos entre as ofertas. Então, pouca oferta e muita rotina.

- Saudável X Tolerável
Foto: Reprodução/Internet
Podemos estabelecer alguns títulos para os alimentos e selecionar o que é “saudável” e o que pode ser “tolerável”. Teoricamente, açúcar branco e farinha refinada não são saudáveis, mas são toleráveis quando fazem parte de um bolo como oferta de lanche ou do sorvete no passeio na praça, mas bala, não é nem saudável, nem tolerável para uma criança de 2 a 4 anos. Lanche em fastfood segue nessa linha e não deve ser consumido. Quanto mais tarde apresentarmos esses sabores para a criança, melhor. Quando oferecemos um alimento, devemos cuidar que ele esteja em uma forma saudável, portanto vamos oferecer batata na forma de purê, cortada em cubos na carne moída, em rodelas na carne assada, assada com recheio de queijo, mas no momento que começamos a oferecer a batata-frita, principalmente a congelada, ou as em forma de carinha, é lógico que a criança vai querer essa.


- Exemplo em casa
Foto: Reprodução/Internet
É importante lembrar que criança segue exemplo e nessa idade deve comer na mesa com os pais para observar o que é servido e fazer escolhas, que serão baseadas no que o adulto está comendo. A criança com mais de 2 anos já come sozinha, então é válido que a família se reúna para fazer refeições saudáveis. Os alimentos (arroz, feijão, legumes, verduras e carne) devem ser montados de forma separada no prato, assim ela visualiza cada grupo de alimentos e escolhe o que gosta ou não de comer. O ato de sempre comer espelhando-se num adulto, onde a criança olhe o uso do garfo e faca, mesmo que esteja usando a colher, a permitirá ir a um restaurante e saber comer na mesa, não que ela fique sentada todo o tempo, mas que entenda que é a hora de parar para fazer aquela atividade e depois pode continuar brincando.


Segundo Tania Zagury (filósofa e mestre em educação) em seu livro “Limites sem trauma”, criança até os 4 anos precisa muito de: sentir-se desejada, amada e necessária; receber cuidados, proteção e segurança; ser apreciada, aceita e fazer parte do grupo; ter a oportunidade de explorar, brincar e aprender a cuidar de si mesma; repousar durante o dia e dormir cerca de 12 horas por noite. Uso sempre esses dizeres por que acho que se encaixam perfeitamente na nutrição, pois estabelecem limites e regras, horários e vontades e precisamos resgatar esses valores de boa convivência.”






Vânia Barberan é nutricionista e colaboradora do Conselho Regional de Nutricionistas do Estado do Rio de Janeiro  e da Associação de Nutrição do Estado do Rio de Janeiro.

CRN4-08100991 
Tel.: 2266-1614 // 8871-9190




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